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Ambulantes da internet

Nem só grandes empresas e aficcionados por novidades aproveitam a parafernalha tecnológica criada nos últimos anos. Gente que se vira na informalidade e é obrigado a usar uma boa dose de criatividade em prol do próprio sustento também despertou para as possibilidades dos bits e bytes. Com a ampliação do acesso a novas ferramentas, não é difícil ver pessoas que sobrevivem no mercado informal com câmeras digitais na mão ou fazendo da internet uma vitrine mais eficiente que a de muitos shoppings. Afinal, ambulantes, online ou não, sempre arrumam um jeito de cativar os clientes.

A designer Luana Wernik, 32 anos, é uma das entusiastas da informalidade virtual. Depois de ter sido diagnosticada com um problema no joelho, Luana ficou impossibilitada de trabalhar muitas horas em frente ao computador. Em 2008, afastada do emprego, ela decidiu usar seu talento para se distrair e garantir alguma renda no fim do mês. "Eu ficava muito tempo em casa sem fazer nada, o trabalho de designer estava completamente parado", lembra. Luana, então, começou a trabalhar com a personalização de sapatilhas de plástico. Comprado em grandes quantidades, o calçado barato se tornava artigo único nas mãos da designer, que passou a mostrar as peças em um blog.

Meses depois, o negócio de Luana cresceu. "O pessoal gostou muito das sapatilhas e eu comecei a fazer outras coisas com os retalhos. Surgiram colares, brincos, pulseiras. Eu sempre tirava foto das peças e as postava no blog", conta Luana. O sucesso foi tanto que ela criou o site Lullypop (www.lullypop.com) e se filiou a duas lojas virtuais  — uma gratuita e outra paga. Hoje, os produtos da designer são vendidos também em bazares e brechós, mas ela garante que a demanda não seria a mesma sem a web. "Eu divulgo o meu trabalho em vários lugares: no Twitter, por meio do e-mail, no Flickr. A internet chama as pessoas", aposta Luana.

A rede de computadores atrai até os profissionais mais improváveis. Moradora de Goiânia, a costureira Maria Célia de Carvalho, 49 anos, só atende pessoas e empresas que a encontraram pela internet. "Quando fiquei sabendo dos anúncios gratuitos, coloquei em muitos sites. Alguns deixam o meu número disponível até hoje", diz Maria Célia, que conta com a ajuda da filha de 24 anos no negócio. E para quem acha que o boca a boca é fundamental para a costureira, ela avisa: "Não atendo a vizinhança. A maioria vem da internet mesmo. As pessoas têm que apostar no meu trabalho."

A ferramenta usada por Maria Célia tem conquistado cada vez mais internautas no Brasil. O site OLX — uma espécie de classificados online, semelhante ao popular Mercadolivre.com — abriu escritório em São Paulo em janeiro deste ano. O portal, presente em 91 países, registra 14 milhões de visitas únicas por mês. O gerente do OLX no Brasil, Rodrigo Ribeirão, estima que cerca de 30% do volume de acessos venha de pessoas que trabalham na informalidade. O site tem unidades físicas na Argentina, nos Estados Unidos, na Rússia, na China e na Índia e funciona de forma totalmente gratuita para usuários.

Tecnologia social
Outra iniciativa virtual para quem trabalha por conta própria é a plataforma Ninui, que reúne mais de mil microempreendedores na rede. A sócia diretora do site Karina Rehavia explica que a página agrega ferramentas de comércio eletrônico para os "ambulantes da internet". São recursos de pagamento eletrônico, comunicação, cálculo de frete e até criação de outras vitrines em aplicativos para celular. O portal Ninui (www.ninui.com) foi lançado na Campus Party Brasil, a maior feira de internet do país, no ano passado. "O comércio eletrônico cresce a uma taxa de 40% ao ano por aqui e 50% da geração de trabalho e renda vêm do mercado informal. Foi por conta dessas coisas que decidimos investir no site", comenta Karina.

O portal, sustentado por meio de parcerias, também incentiva os associados a passarem à formalidade. A ideia de Karina e seu sócio, Roberto Andrade, deu tão certo que será levada a Moçambique. A prefeitura de Maputo, capital do país africano, assinou convênio para reunir todos os artesãos da cidade no Nunui. A ideia é que o site seja também uma ferramenta para a integração cultural dos países de língua portuguesa.

Mesmo com tantas possibilidades, ainda tem gente que prefere ser ambulante à moda antiga. Com algumas inovações, é claro. Figura conhecida nos bares de Brasília, Marinho Izaías do Carmo, 75 anos, abandonou no ano passado a velha máquina fotográfica analógica por uma digital, acompanhada de uma impressora de fotos. "Está fazendo o maior sucesso entre meus clientes, a foto sai com mais qualidade", garante Marinho, que percorre bares das asas Sul e Norte de terça a sábado, vendendo flores e registrando os "botequeiros". "E a foto ainda é adesiva, é só tirar uma fita e colar onde quiser", diz o fotógrafo florista. Mas Marinho tem reclamações: a bateria da impressora de fotos dura pouco tempo e, muitas vezes, ele precisa pedir ajuda aos donos dos bares para recarregar o aparelho. Como toda a tecnologia, a impressora ainda precisa de aperfeiçoamentos para conquistar mais usuários.

1 - Presença feminina
O Distrito Federal tem cerca de 145 mil trabalhadores informais, conforme revelou pesquisa do Instituto Fecomércio realizada em 18 das 30 regiões administrativas e divulgada em abril deste ano. O levantamento também mostrou que a maioria dessa massa é composta por mulheres com menos de 30 anos, que têm ensino médio completo e renda mensal de até dois salários mínimos, o equivalente a R$ 1.020.

2 - Garantias online
As lojas virtuais funcionam como um supermercado: o cliente visualiza o produto, consulta preços, coloca no carrinho de compras e faz o pagamento no caixa. A diferença é que tudo é feito pela internet. Muitas grandes lojas já comercializam produtos dessa forma. Quem trabalha por conta própria pode recorrer a serviços prestados por outros sites, que evitam fraudes. O Pagseguro, do UOL, por exemplo, garante a vendedores e clientes segurança nas transações financeiras e na entrega da mercadoria. A contrapartida é o pagamento de uma taxa, que no Pagseguro varia de 1,9% a 2,9% do valor do produto.

Fonte: http://www.correiobraziliense.com.br

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