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Seu melhor índice de inovação: a curva de abandono

Estamos dançando em tempos estranhos. E, para piorar, em compasso descoordenado.

Exterminamos os artesãos, mas sobrevivemos à revolução das máquinas de fumaça das linhas de produção. Esprememo-nos por entre altos e baixos na era dos MBAs e tivemos a sorte de adentrarmos o que muitos chamam de “era da experiência”, basicamente se referindo à constante busca das pessoas por muito mais do que suprir suas necessidades: a busca por significado e propósito.  E cá estamos nós.
Mas não estamos sozinhos. Em meio a essa escalada em esteroides ao topo da pirâmide motivacional de Maslow, ainda temos que encarar a sopa de complexidade que quatro gerações, muitas vezes vivendo dentro da mesma casa ou da mesma empresa, criam diariamente. Some a isso a explosão dos canais digitais e das praças sociais, além da incrível e óbvia constatação de que o planeta está sucumbindo (e que a culpa é nossa)… Ufa. Dava para ir embora nessa lista.
Durante a revolução industrial, gritávamos “redução de custos a qualquer custo!”; durante a era do conhecimento, esbravejamos “qualidade e eficiência!”. E agora, na era da transcendência, esgoelamo-nos a plenos pulmões por “inovação, inovação, inovação!”. Só que aí temos um problema. Trocamos o disco e, meio que sem nos darmos conta, continuamos dançando ao ritmo do disco anterior.
A qualidade pode até ser a segunda estrofe da música para a redução de custos, mas inovação é outra música. E, para piorar, tocada em outro tempo, por outra banda e com outros instrumentos.
Felizmente, ao contrário da época das máquinas a vapor que reduziram o custo das coisas e da revolução dos controles de qualidade japoneses que fizeram um excelente trabalho em comoditizá-las,  a inovação só nasce das pessoas. Máquina não inova. Processos também não.
Sabendo disso, as empresas decidiram “estimular” colaboradores a serem artesãos novamente, a utilizarem a mente criativa, a “pensarem fora da caixa”. Mas os processos, as políticas, os modelos de relacionamento e a cultura dessas empresas ainda cheiram a fumaça.
Empresas cobram que seus colaboradores sejam verdadeiros “artistas” dentro de suas áreas, mas que não se esqueçam de reportar o porquê da diferença na quantidade de tinta vermelha utilizada entre um quadro e outro. E caso a tinta azul não seja utilizada até o final do ano, entendem que ela é um desperdício, nunca tendo sido necessária.
Imploram que seus “artistas” produzam obras diariamente, mas seus líderes se apressam para filtrar os quadros e selecionar os que prestam e os que não prestam segundo seu próprio ponto de vista. Um líder, um filtro, um não. E lá se vai mais uma Monalisa todos os dias.
A inovação é fruto da combustão resultante da aplicação da criatividade em prol de um objetivo. Como inovar sem propósito? E o pior: como ser criativo em ambientes onde a diversão é o contrário da competência? Não dá.
Tive a oportunidade de mergulhar recentemente durante dois dias na Zappos.com e experimentar a cultura corporativa mais impressionante da qual já tive notícia. Mas dá resultado? O NPS (Net Promoter Score) do call center deles é 92%. O da Apple é 78%.  Faz a conta (sim, eu disse o do call center).
As regras deles para conquistar essa cultura fenomenal? Ciência de foguete? Nada. Muito simples. Todas as boas práticas estão por aí escritas em livros que provavelmente você já leu:  Good to Great, de Jim Collins; PEAK, de Chip Conley, sendo estes apenas dois deles.
Durante os dois dias em que estive por lá, eles não pouparam esforços para me mostrar tudo, de cabo a rabo. Mergulhei nos processos, ouvi ligações no call center, conversei com o CEO Tony Hsieh sobre o negócio… Enfim, nada passou despercebido. E no fim, posso resumir tudo que eles fizeram com uma frase: “Just do it” (sem intenções, Nike, sorry… Eita mundo brandeado).
Sim, apenas faça. Pare de imitar as regras que foram definidas há 40, 60, 100 anos. Repense e implemente. E se não funcionar? Repense e implemente. E se não funcionar? Bem, você me entendeu.
O que você tem a perder, considerando o que você já está perdendo todos os dias? (Incluindo pessoas, dinheiro, resultados, posicionamento etc.)
Não me entenda mal.: na Zappos também existe comprometimento e regra, e aumentar o valor das ações dos investidores é também um mantra por lá. Mas, como eu falei antes, quem disse que eficiência e diversão não podem andar juntas? Não faço a menor ideia, mas deve ter sido alguém bem importante ou impregnante.
Se você ainda acha que isso é besteira e que inovação nasce mesmo é lá em P&D, eu sugiro um índice novo para você. Eu chamei de “Curva de Frustração e Abandono”. No eixo Y coloque a quantidade de pessoas que são extremamente criativas e agentes de mudança no seu negócio. No X, coloque o tempo. Com a ajuda do Excel ou de uma caneta, trace com o passar do tempo a sua curva de abandono. A correlação entre a ascensão da curva e a sua perda de potencial para inovar é direta. Olho nela.
http://www.hsm.com.br
Se o seu grito é “inovação”, mas você possui uma cultura de “artevãos” (artesãos do carvão) meu conselho: Mude o disco de volta para “custo, custo, custo!” ou esteja disposto a aprender a dançar de novo. Seus resultados, seus colaboradores, a sociedade e o planeta agradecem. 

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