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O Brasil está pronto para a economia do conhecimento?

Tive o imenso prazer de ler a matéria em forma de entrevista sobre o tema citado. Confesso que me fascinou a forma como foi abordada e compartilho com vocês meus diletos e fieis leitores. Solicito que leiam até o final. (Paulo Enriq)


Confira a entrevista com Gilson Schwartz, líder do grupo de pesquisa Cidade do Conhecimento da Universidade de São Paulo (USP), sobre as novas tecnologias sociais e o que falta para o Brasil se inserir neste contexto
O mundo mudou. As empresas mudaram. E a moeda dos negócios passa a ser cada vez mais o compartilhamento. Em entrevista ao Portal HSM, o prof. Gilson Schwartz, líder do grupo de pesquisa Cidade do Conhecimento da Universidade de São Paulo (USP), fala sobre as novas tecnologias da informação. Para ele, a economia do conhecimento existe quando criar valor depende da inteligência coletiva mediada por redes digitais.
Gilson esteve presente no ciclo "Moedas Criativas" realizado de 22 e 26 de março quando foi discutido qual é o sistema tecnológico, político e ético necessário para integrar o Brasil na sociedade do conhecimento e na economia dos ícones digitais. Na ocasião, foi lançado ainda o livro "Mesh – O Futuro dos Negócios é Compartilhar", de Lisa Gansky, guru da nova economia digital no Vale do Silício (EUA).
Confira a entrevista completa.
Portal HSM: Como podemos definir a economia do conhecimento?
Gilson Schwartz: Ao longo da história, as mudanças econômicas sempre foram associadas a transformações tecnológicas, ou seja, alterações nos instrumentos
por meio dos quais nos relacionamos, seja com a natureza (agricultura, exploração de fontes energéticas como água, tração animal, vapor ou combustíveis fósseis), seja
com nossos semelhantes (servidão, escravidão, trabalho assalariado).
Pela primeira vez na história, a mudança econômica deixa de estar relacionada com
ferramentas ou instrumentos para manipular o material (natural ou humano), pois o que agrega valor, o que abre mercados, o que gera riqueza é o uso competente de tecnologias da inteligência, ou seja, tecnologias de informação e comunicação.
Portal HSM: Qual será o futuro da sociedade do conhecimento?
GS: O futuro já chegou e países com sistemas educacionais, tecnológicos e culturais primitivos, de baixo dinamismo e criatividade restrita perdem competitividade. A difusão das tecnologias de informação e comunicação depende de consumidores, produtores e reguladores (governos e agências de interesse público) mais preparados.
Se essa base econômica tem pouca intensidade em ativos intangíveis, a sociedade permanece atada aos modelos de consumo de massa do século 20. Isso não significa que as próprias tecnologias da inteligência tenham ficado estagnadas ao longo da história. Evoluíram os meios de registrar nossas memórias, conhecimentos e atividades. Porém, pela primeira vez é a evolução dessas tecnologias de processamento de informação e comunicação, as chamadas TICs, que se tornam o principal motor do desenvolvimento econômico, político e cultural. A economia do conhecimento existe quando
criar valor depende da inteligência coletiva mediada por redes digitais.
 
Portal HSM: Como o Brasil pode crescer inovando por meio das tecnologias de informação e comunicação?
GS: Acredito que estamos já na era da economia, ou seja, a economia dos ícones. Criei essa disciplina de graduação na USP que é oferecida para alunos de engenharia, estatística, computação, economia, administração, contabilidade, comunicações e artes, direito. Para que possamos avançar, busco uma nova perspectiva teórica, novos conceitos de educação profissionalizante, uma nova prática nas áreas de cultura e extensão na universidade, uma aproximação não apenas entre áreas do conhecimento, mas também entre práticas sociais no setor privado, no setor público, na academia e no chamado terceiro setor. Mas criar uma disciplina nova na USP, ainda que difícil, é bem mais fácil do que ver essas convergências conceituais e práticas avançarem na prática.

Portal HSM: Quais as políticas públicas necessárias para inserir o Brasil de vez na economia do conhecimento?
GS: Ainda estamos presos no Fla-Flu em torno da propriedade privada, de um lado, e do aparelhamento ideológico do Estado, de outro. A mudança cultural e prática ocorre aos poucos e, sempre é bom lembrar, com recuos, fracassos e desvios. O Brasil está muito atrasado no investimento em infra-estrutura tecnológica e formação profissionalizante voltadas para a emancipação digital (ou seja, a inclusão digital que gera riqueza, identidade e conhecimento, não apenas oportunidade de consumo de máquinas ou serviços de massa).
Os episódios se sucedem numa longuíssima novela em que ora se fala do FUST, ora da banda larga, outrora foi o GESAC – para tudo se acabar na quarta-feira. Temos que superar a carnavalização da inclusão digital e crescer com políticas públicas e empreendedorismo digital. Finalmente, do ponto de vista estritamente financeiro, estamos ainda engatinhando no mundo da inclusão.
Foi somente em 2009 que o Banco Central organizou o I Fórum de Inclusão Financeira. No ano passado ocorreu o segundo. A chave da expansão econômica contemporânea está na chamada "base da pirâmide". Os dois mandatos do governo Lula colocaram esse modelo em evidência e a percepção de que a lógica do desenvolvimento de baixo para cima exige novos modelos e ganha espaço em todo mundo.
Passamos da globalização financeira para uma nova era de financiamento à sustentabilidade da inclusão social que nem economistas, nem engenheiros e menos ainda cientistas sociais se prepararam para estudar e influir.
Portal HSM: Falando um pouco sobre o livro "Mesh – O Futuro dos Negócios é Compartilhar", de Lisa Gansky, guru da nova economia digital no Vale do Silício (EUA). Como podemos definir este novo tipo de moeda?
GS: Um novo capitalismo surge no século 21 animado por uma redução radical nos custos de coordenação numa variedade impressionante de atividades humanas. A colaboração no mercado chegará a níveis inéditos, privilegiando o acesso compartilhado em detrimento da propriedade pura e simples. O capitalismo se reinventa valorizando uma nova forma de coletivismo.
No centro dessa nova formação social e econômica está a "mesh", ou seja, um tipo de colaboração que se torna viável e ganha potência por meio da rede digital, das tecnologias de informação e comunicação (a "network assisted sharing"). A coordenação, privada ou pública, substituirá a propriedade privada de um número enorme de ativos por parte dos indivíduos, das famílias e das empresas.
 
Portal HSM: Como as empresas devem estar neste contexto?
GS: A "mesh" revoluciona profundamente a atividade humana gerando disrupção na maior parte das indústrias e instituições, não apenas na chamada indústria cultural ou economia criativa. Para os empreendedores criativos será uma oportunidade histórica sem precedentes para gerar valor reinventando setores e abrindo novas fronteiras de mercado. Do jovem que ainda está nos bancos da faculdade aos dirigentes das grandes empresas globalizadas, quem ficar fora da "mesh" será incapaz de competir, por não saber compartilhar.

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